segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pornografia Salarial

O Banco Privado Português causou sérios prejuízos aos seus depositantes.
Em Abril foi decretada a sua falência.
Muitos clientes, portugueses com algumas poupanças, perderam anos de trabalho que tinham depositado neste banco.
Nos dez anos de 1999 a 2008 o seu Presidente recebeu mais de doze milhões de euros de prémios e retribuições.
Em 2008, ano em que este banco entrou em dificuldades e que solicitou ajuda ao Estado e ao Banco de Portugal, o seu Presidente recebeu três milhões de euros. Segundo o próprio beneficiário estas verbas já são liquidas, livres de impostos.
Esta é mais uma história do nosso capitalismo financeiro, revelador da ambição excessiva que contagiou algumas elites.
Num banco em risco de falência o seu presidente recebeu um montante absurdo, “prémio” pela sua gestão.
Somos um dos países mais desiguais de toda a Europa.
O Presidente da República veio no 25 de Abril condenar, mais uma vez, as remunerações excessivas de alguns gestores, nomeadamente quando estão à frente de empresas de capitais públicos.
Mas não nos bastam as palavras de condenação. São precisas politicas e medidas que combatam a actual situação.
Alguns defendem que estes salários se justificam porque se trata de gestores extraordinários, que se não forem devidamente remunerados irão trabalhar para o estrangeiro.
Por não poderem receber o que merecem em Portugal, Ronaldo joga no Real Madrid e Mourinho treina o Inter.
Portugal é um país de dez milhões de habitantes que não pode ter um campeonato tão competitivo como aquele que se verifica em países mais ricos, mais populosos e com maior mercado.
São os melhores do mundo e a sua saída para o estrangeiro não prejudica Portugal. Até nos beneficia e nos envaidece como povo.
António Guterres também tem um elevado cargo internacional e Durão Barroso é o “número um” a nível europeu.
Estes portugueses que trabalham no estrangeiro são uma excelente propaganda das nossas qualidades humanas e trarão para o nosso país grande parte dos ordenados que auferem.
Seria absurdo proibi-los de mostrar todo o seu génio fora de Portugal.
Se alguns dos gestores nas nossas empresas públicas, que estão a beneficiar de salários escandalosos, for trabalhar para outro país, porque lhes pagam mais, penso que lhes devemos desejar os maiores sucessos.
Se alguns se fartarem de trabalhar em empresas do Estado talvez optem por ter iniciativas empresariais próprias, onde criarão riqueza e novos ordenados. Portugal bem precisa de livre iniciativa.
O pior que lhes podemos fazer é satisfazer todos os seus desejos materiais, acomodando-os, impedindo-os de revelar todo o seu potencial.
Precisamos da sua inquietude para se tornarem mais criativos.
Nós queremos os melhores à frente dos destinos do País.
Queremos escolher o melhor Presidente da República e o melhor Primeiro-ministro.
Mas todos sabemos que estes elevados cargos não devem ser remunerados com valores escandalosos.
É um principio moral e ético de sociedade tolerar diferenças, premiar qualidades, mas também impedir excesso de desigualdades.
É admissível que o mesmo povo, que deve escolher os melhores para as suas chefias de Estado e de Governo, venha depois permitir que simples gerentes de empresas participadas pelo Estado sejam remunerados com salários verdadeiramente pornográficos.
Está na altura de acabar com esta situação.
Àqueles que detêm o poder temos de exigir medidas e não simples palavras bonitas.
(Publicado no Diário de Coimbra em 18.05.2010)

1 comentário:

Carlos Esperança disse...

Completamente de acordo salvo o elogio a Durão Barroso, cúmplice da guerra do Iraque.