quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Demagogia na Gestão da Saúde

O governo publicitou a contratação de dezenas de médicos cubanos para prestar serviço no Alentejo e na região de Lisboa.
Não há nada como umas eleições para acelerar algumas medidas.
Políticos que não fazem o seu trabalho atempadamente esforçam-se para resolver problemas nas vésperas de eleições.
Portugal gasta 9,9% do PIB na saúde, sector em que o gasto médio na OCDE é de 8,9%. Somos um dos países da OCDE que maior percentagem do PIB gasta nesta área.
É evidente que tendo Portugal um PIB inferior à média o valor absoluto é menor mas também é verdade que os nossos salários e pensões são menores.
Comparativamente com outros países Portugal gasta demasiado em medicamentos, devido ao seu preço exagerado e ao excesso de consumo.
Somos por exemplo um dos países que mais medicamentos para as depressões consome.
Curiosamente os Governos têm vindo a incentivar este consumo aumentando a percentagem de comparticipação.
Portugal tem 2,8 camas de internamento por cada mil habitantes, número inferior às 3,8 camas de média na OCDE. Temos menos 25% de camas do que a média.
Temos muito menos (50%) enfermeiros que os outros países. Cerca de 5,1 por cada mil habitantes quando a média na Europa é de 9,6.
Curiosamente Portugal tem mais médicos que a média na OCDE. O nosso país tem 3,5 médicos por cada mil habitantes sendo a média de 3,1.
Em dez milhões significa que temos 35 mil médicos quando para estarmos na média seriam só necessários 31 mil, ou seja temos quatro mil médicos a mais.
Como as pessoas sentem a sua falta então podemos concluir que estão subutilizados e mal distribuídos.
Nos meios técnicos para execução dos exames complementares de diagnóstico estamos acima da média dos outros países.
Temos por exemplo mais sessenta aparelhos de TAC que a média da OCDE e consta que somos o pais que mais aparelhos para avaliar a osteoporose possui.
É verdade que temos um dos melhores sistemas de saúde do mundo com excelentes indicadores. Se há um sector onde somos bons é na saúde embora seja fácil criticar e denegrir o Sistema Nacional de Saúde.
No entanto nem tudo tem corrido da melhor forma na saúde em Portugal.
Resumindo a análise feita aos vários indicadores concluímos que gastamos mais que a média, temos excesso de exames complementares de diagnóstico, consumimos mais medicamentos, temos menos camas, temos menos enfermeiros e temos médicos a mais.
Uma politica eficiente e racional de saúde deveria ter como objectivos evitar consumos desnecessários de dinheiro, medicamentos e exames auxiliares de diagnóstico (raios X, TAC e análises).
Deveriam ser criadas condições para se formarem mais enfermeiros.
O Governo deveria aumentar o número de camas para Cuidados Continuados de Saúde e criar camas para Cuidados Paliativos.
Deveria criar mais internamentos e reabrir os internamentos que recentemente encerrou em alguns Centros de Saúde com eventual conversão das camas em Cuidados continuados ou Cuidados Paliativos.
Uma política de saúde séria deveria gerir o número excessivo de médicos, distribuindo-os melhor por especialidades e pelo território, em vez de importar médicos cubanos para demagogia eleitoral.
(Publicado no Diário de Coimbra em 23.09.2009)

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