sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Governo Com ou Sem Rumo

Sócrates e o PS venceram as eleições.
É verdade que perdeu 700 mil votos e perdeu a maioria absoluta, mas este facto não prejudica o seu direito de continuar a governar.
Ficou, no entanto, obrigado a dialogar com outras forças políticas, que lhe garantam a maioria parlamentar. Não pode continuar a refugiar-se na arrogância e a decidir sozinho.
Está agora obrigado a negociar para garantir a estabilidade governativa e a aprovação de propostas legislativas e de documentos fundamentais, desde o orçamento ao programa de governo.
É hoje claro que há uma larga maioria de esquerda (CDU+BE+PS) na Assembleia da República. O centro/direita (CDS+PSD) está em minoria.
Essa maioria de esquerda deve assumir as suas responsabilidades governativas.
Como o PS faz maioria com o Bloco de Esquerda e com a CDU devem estes três partidos entenderem-se para constituir Governo, garantindo uma governação que corporize a vontade democrática expressa pelos eleitores.
O PS tem que decidir se quer governar à direita ou à esquerda. Deve clarificar o discurso e assumir um rumo e as opções ideológicas correspondentes.
Foi a diferença ideológica que o Eng. Sócrates tentou imprimir durante a campanha eleitoral. Por isso mesmo, está obrigado a ser consequente.
O pior que pode acontecer a Portugal é o PS assumir agora uma postura dançarina que, conforme as situações, tenta fazer negócios políticos ora com o CDS/PSD, ora com a CDU/BE.
O País precisa de um rumo e de uma estratégia, o que não é possível com um Governo em permanente ziguezague político.
Os próximos quatro anos não vão ser fáceis.
Este Governo vai ter uma herança difícil, consequência da sua própria herança, reflexo da sua má governação.
É legitimo que a crise que Portugal enfrenta, que só em pequena parte se explica pela crise mundial, seja solucionada pelo mesmo Partido Socialista que foi permitindo o agravamento da situação económica nacional.
Após os últimos quatro anos e meio de Governo o Eng.º Sócrates não pode atirar as culpas para o antecessor, ou seja para ele próprio.
O próximo Governo tem que assumir as suas responsabilidades sem recurso a expedientes ou álibis.
Não pode continuar a desculpar-se com o passado, como tem feito recorrentemente José Sócrates, na actual legislatura.
É uma desculpa que já não pega sob pena das acusações lhe caírem na própria casa.
O actual Governo pautou a sua actuação por um ataque sistemático à classe média, esquecendo que é esta a que mais contribui para as receitas fiscais e que nenhuma economia sobrevive, de forma sustentada, sem uma classe média forte e saudável.
José Sócrates, encenando um arrependimento tardio, passou a recente campanha eleitoral a prometer medidas de apoio à classe média. Importa agora cumprir essas promessas que devem ser materializadas no programa do novo governo.
Desejo, a bem dos portugueses, que o líder socialista seja feliz no próximo Governo.
Se governar bem todos beneficiaremos. Se estiver mal seremos todos a pagar os erros da governação, sem esquecer que são os mais desfavorecidos e também, uma vez mais, a classe média a pagar a factura.
Como diz o ditado “é o mexilhão que se lixa quando o mar bate na rocha”.
O desemprego já ultrapassa as 500.000 pessoas. São muitas as famílias e crianças em risco social.
Importa que o novo Governo faça melhor que o anterior e que Portugal se desenvolva, se criem empregos, se diminua o desemprego, se combata a pobreza, se aumente as pensões e os salários, especialmente o mínimo. Não basta aumentar o lucro da banca ou as subidas na bolsa.
É preciso encontrar soluções para uma educação sábia e responsável para os nossos jovens e uma saúde ainda mais eficaz e acessível a todos.
É preciso enfrentar o combate à criminalidade e à corrupção, garantir a segurança e uma justiça mais célere e igual para todos. Sem álibis nem ziguezagues.
Porque o diagnóstico está feito. Agora basta a vontade política.
Criatividade, precisa-se porque necessitamos dum Portugal melhor.
(Publicado no Diário de Coimbra em 13.10.2009)

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