segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Gripe A

O Mundo vive alguma insensatez. As sociedades mostram-se muito subjugadas a uma comunicação social muitas vezes acrítica.
Veja-se o caso da gripe suína, ou gripe A, que tem mobilizado imenso tempo de antena e obrigado os Estados a despender enormes recursos para evitar a “pandemia”.
Em Portugal são cerca de duas centenas de infectados e nenhuma morte mas quando a vacina estiver disponível serão, só em Portugal, vendidos muitos milhões de euros.
Aprecie-se a rapidez. A gripe suína surgiu há meses e já vai haver vacina em Setembro, Outubro…
Outras doenças continuam sem vacinas.
A malária continua a matar diariamente africanos e a sida a matar milhões de pessoas que não têm recursos para pagar os retrovirais.
Em Portugal, em cada inverno, em consequência da gripe, dita sazonal, morrem entre 1.500 a 2.500 pessoas, sem qualquer notícia na comunicação social.
Morrem por ano 2 milhões de crianças no mundo com diarreia, doença evitável com um simples soro que custa apenas 25 cêntimos.
O sarampo, a pneumonia e outras doenças similares, curáveis com simples vacinas baratas, matam cerca de 10 milhões de pessoas por ano.
São só simples mortes de gente que já não alimentam notícias nem interesses económicos. E estas mortes acontecem mesmo com a vacina para a gripe sazonal…
Perante as duas centenas de engripados em Portugal, quase na totalidade já curados, mobilizam-se imensos recursos humanos e financeiros.
Em contraponto assusta a insensibilidade política que fecha os olhos ao facto de, só nos primeiros 5 meses do ano, 41 mulheres terem sido mortas pela violência machista.
Assusta que nem se noticiem as centenas de pessoas que continuam a morrer nas nossas estradas em cada ano, só porque o Estado se demite de fazer a fiscalização, a educação e a prevenção adequadas.
Assusta que pessoas com cancro continuem em lista de espera para cirurgias que as possam salvar…
Sem colocar em causa as necessárias medidas preventivas para impedir a propagação da doença, que devem ser implementadas, uma pergunta não pode ficar por fazer. Que interesses económicos estão por trás da gripe A?
Há alguns anos também todos nos recordamos da famosa gripe das aves.
As primeiras páginas dos jornais de todo o mundo inundaram-se de notícias com títulos bombásticos: “Uma epidemia, a mais perigosa de todas... Uma pandemia”.
Tal como agora o pânico instalou-se.
A gripe das aves apenas causou a morte de 250 pessoas em todo o mundo, em 10 anos. Ou seja 25 mortos por ano.
A gripe comum, mata por ano cerca de meio milhão de pessoas no mundo. Meio milhão contra vinte e cinco.
Mas para o combate à gripe das aves foram vendidos milhões de doses de Tamiflú. As empresas farmacêuticas que venderam estes antivirais, obtiveram milhões de euros de lucro.
Com a gripe suína a história repete-se. O clima de pânico instalou-se de novo, os governos voltam a encomendar, aos mesmos laboratórios, milhões de euros de vacinas.
Em Portugal a senhora ministra parece uma “barata tonta” a correr para a televisão e a falar sobre a pandemia.
Também ela mostra grande preocupação em adquirir vacinas, para prevenir uma gripe que até ao momento mostrou ser suave e, tal como a gripe habitual, só ser perigosa para pessoas debilitadas, com sida ou outras doenças crónicas.
(Publicado no Diário de Coimbra em 29.07.2009)

2 comentários:

Mário Nunes disse...

Um negócio de milhões gerido pela Roche, a mesma do Avastin...

Francisco disse...

Gostei do enquadramento mas discordo muito da avaliação que faz da perigosidade das gripes. São um risco sério, e note a palavras que usei - risco sério - isto porque além de já ter mais consequências mortais que a dita normal, por ser uma estirpe de evolução recente apresenta maiores probabilidade de poder vir a mudar para uma forma mais infecciosa e mais mortal.
Mas como disse gostei do enquadramento, reúne factos que deviam guiar a comunicação social, infelizmente são as regras de mercado e a psique humana que ditam o alarido. Muito infelizmente, porque acho que muito do que se passa nas estradas portuguesas vai de deixar a culpa toda para os condutores e nenhuma para os políticos que fazem/mantêm as estradas.
Dai parece-me que a ministra faz o que é eleitoralmente correcto... Pelo mundo fora esta gripe mata cerca de 1 em 400 infectados, é quase certo haver uma morte até às eleições. Mas deixo-lhe uma pergunta prefere este comportamento ou o que envolveu as mortes associadas à onda de calor à 4 anos?