quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Erro das Grandes Obras

As comemorações do 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, ficaram este ano marcadas pelas intervenções do Presidente da República e de António Barreto, Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações.
O Presidente da República defendeu a aposta na educação e no mundo rural como forma de conseguir um ordenamento territorial, a coesão do todo nacional e o combate ao despovoamento do interior.
Cavaco Silva chamou a atenção para a necessidade de uma estratégia a médio e longo prazo para Portugal, defendendo que dadas as dificuldades que o país hoje enfrenta é necessário ter uma "visão alheia a calendários imediatos, que poderiam comprometer o futuro e tornar inúteis os sacrifícios que a hora exige".
Referiu que é preciso agir "com determinação, sentido estratégico e capacidade de mobilizar esforços e vontades" e apostar no que é "essencial para o aumento da nossa capacidade competitiva".
Defendeu ainda que "é necessário ter (...) a coragem de encarar a verdade dos factos e proceder às mudanças que sejam necessárias".
O Governo fazendo “ouvidos de mercador” da mensagem do Presidente da República continua a defender o avanço das grandes obras públicas.
Esta aposta do Governo assenta em três erros enormes.
Retira dinheiro da economia real para o concentrar nos grandes grupos financeiros.
Num país com recursos escassos consome o que tem e não tem em obras de utilidade imediata duvidosa, como é o caso do TGV e do novo aeroporto de Lisboa.
Como estas obras vão ser feitas com base no endividamento compromete ainda mais o nosso futuro.
Para muitos especialistas é no mínimo questionável a opção de contrariar a crise através de um maior endividamento do Estado.
A mim parece-me uma evidente loucura.
Todos sabemos que quando uma família está numa situação difícil, não conseguindo pagar as suas dívidas, a solução não passa por contrair mais dívidas.
A solução exige novas receitas ou menos despesa.
As dificuldades presentes decorrem da situação de crise internacional mas não nos podemos esquecer que Portugal tem vindo, nos últimos anos, a fazer pior e menos que os restantes países da UE.
Esta opinião, dos que defendem que se endivide ainda mais o país, só é possível porque interessa a alguns grupos financeiros e às grandes construtoras, que se habituaram a viver à custa do Estado.
O país precisa de novas estratégias de desenvolvimento.
Necessita de indústrias competitivas, de desenvolver as pescas, de modernizar a agricultura, de aproveitar o território a o espaço florestal, de melhorar e ampliar o sector do turismo… Mas estas áreas são arriscadas, exigem trabalho e esforço. É mais fácil ganhar dinheiro sem risco à custa dos grandes negócios com o Estado.
A solução para a crise do país não passa pelo aumento do endividamento nem pela realização de obras megalómanas como o novo aeroporto de Lisboa ou o TGV.
A opção de agravar o endividamento é uma solução oportunista, para o Governo ganhar eleições, mas que vai comprometer o futuro do país durante muitos anos.
As loucuras que o Governo agora cometer a gastar dinheiro sem “tino” serão pagas por todos nós, com juros, nos próximos anos ou décadas.
A crise económica, o desemprego, a pobreza e a baixa natalidade são factores que deprimem os portugueses.
Segundo um estudo/sondagem publicado recentemente no jornal britânico The Economist, os portugueses são os cidadãos mais tristes e desmotivados da Europa, só igualados pelos povos de leste da Hungria e Bulgária.
Tudo isto porque Portugal já foi, em termos de crescimento, ultrapassado por todos os países da Europa, segundo o mesmo jornal.
Perante a enorme crise de confiança em que o país se encontra exigem-se políticos capazes de definirem políticas que conduzam Portugal a dobrar este novo “Cabo das Tormentas”.
O engenheiro Sócrates é um homem desgastado.
As várias histórias em que se tem visto envolvido debilitaram-no.
Portugal não pode ter à sua frente políticos enfraquecidos, mais preocupados com a defesa da sua imagem do que com a governação do país.
(Publicado no Diário de Coimbra em 16.06.2009)

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