terça-feira, 30 de junho de 2009

Haja Bom Senso

Neste espaço tenho vindo a alertar para o enorme erro que é a aposta do Governo na execução de obras públicas megalómanas.
No 10 de Junho o Presidente da República chamou a atenção para a necessidade de uma estratégia de médio e longo prazo para Portugal, defendendo que dadas as dificuldades que o país hoje enfrenta é necessário ter uma "visão alheia a calendários imediatos, que poderiam comprometer o futuro e tornar inúteis os sacrifícios que a hora exige".
Há cerca de uma semana um grupo de 28 economistas de referência, entre os quais vários ex-ministros do PS, vieram a público alertar para a mesma situação.
No documento que divulgaram referem que: “A insistência em grandes investimentos públicos, de baixa ou nula rentabilidade, e com fraca criação de emprego em Portugal, não é o caminho no combate à crise económica. São projectos que exigem a mobilização de recursos avultados, com elevados impactos na dívida externa, e na dívida pública, e com custos de oportunidade significativos no ataque às nossas verdadeiras fraquezas estruturais e no crescimento sustentado da economia.”
Segundo uma sondagem da Marktest para a TSF e Diário Económico, divulgada ontem, dois em cada três portugueses (73,9%) acha que Portugal deve reavaliar a execução das grandes obras públicas, nomeadamente o TGV, o novo aeroporto e a terceira ponte em Lisboa.
Mesmo agora, perante a crise, indiferente aos vários alertas e à opinião dos portugueses, o Governo parece teimosamente decidido em apostar no apoio às grandes empresas, promovendo investimentos megalómanos.
O Governo quer endividar o País obrigando os portugueses, que já vivem com dificuldades, a pagar mais impostos para suportar loucuras insustentáveis e financeiramente ruinosas.
Não significa isto que esteja contra o investimento público. O investimento público é necessário.
Considero contudo que esse investimento deve ser criteriosamente distribuído pelo território nacional, tendo como principal objectivo os investimentos geradores de riqueza e que permitam a criação de postos de trabalho, bem como os que promovam a coesão territorial, tais como as vias de ligação dos vários concelhos às respectivas sedes de distrito e a recuperação dos monumentos classificados.
O governo deveria lançar medidas de salvação nacional a nível económico, incentivando e apoiando as Pequenas e Médias Empresas através de pequenos investimentos disseminados pelo país e não concentrados na grande Lisboa.
No imobiliário é preciso deixar de construir bairros novos, apoiando antes os proprietários na recuperação das casas antigas que, um pouco por todo o país, vão ficando em ruínas.
Só estímulos às Pequenas e Médias Empresas (PME’s) serão capazes de reanimar a economia, impedindo o desemprego crescente.
Em Portugal encerraram 60 mil PME’s entre Janeiro de 2008 e Abril de 2009. As PME’s empregam 70% da população activa.
O presidente da Confederação Europeia das PME’s, Mário Ohoven, alertou para que em Portugal só a manipulação política e o tráfico de influências podem explicar que as grandes empresas tenham o privilégio de aceder aos fundos europeus em detrimento das PME’s. Segundo este importante dirigente alemão, o Governo português está dependente dos lobbies das grandes empresas.
É fundamental que o Governo perceba que deve apoiar a economia real e não os especuladores financeiros que não criam emprego. É necessário que o Governo deixe de olhar só para as grandes empresas.
Perante a evidência do desastre económico provocado pela febre despesista, surpreende que o Governo continue a endividar-se apostando tudo em obras de betão.
Corremos o risco de a curto prazo termos um estado arruinado, que tem de canalizar todos os nossos impostos para sustentar o pagamento da divida.
Impõe-se como tal, em nome do interesse nacional, que o Governo proceda a uma reavaliação profunda dos mega-investimentos públicos na área dos transportes.
A solução para a crise do país não passa pela realização de obras megalómanas como o novo aeroporto de Lisboa, o TGV ou uma nova ponte em Lisboa.
O país precisa de novas estratégias para um desenvolvimento coeso e sustentado.
(Publicado no Diário de Coimbra em 30.06.2009)

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