sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Crise e a Falta de Líderes

Portugal enfrenta dificuldades agravadas pela crise internacional.
Era evidente que o rumo seguido, nos últimos anos, condenava o país a um período de vacas magras.
O desencadear da crise financeira internacional, iniciada com a desculpa do sub-prime nos EUA, acentuou as nossas dificuldades endógenas.
O défice externo em 2008 voltou a ultrapassar os 10% do PIB, situação que não se verificava desde 1982, ano em que o país teve de recorrer ao FMI.
O grande agravamento é devido ao défice comercial, agravado pelo aumento da factura com os juros resultantes da divida acumulada ao exterior.
A situação não é ainda mais grave graças ao facto de contarmos com as remessas dos emigrantes e com os apoios financeiros da União Europeia.
A solução passa por um efectivo apertar de cinto nas importações e por uma aposta estratégica fundamental no aumento da nossa capacidade produtiva em bens transaccionáveis.
Portugal não pode continuar a não apostar na agricultura, a desprezar as pescas e a demitir-se de desenvolver uma indústria capaz de competir no exterior e que reduza as nossas necessidades de importações.
Perante esta situação exigem-se políticos capazes de falar verdade e de actuar sem hesitações.
A solução não passa por aumentar o défice do Estado com o lançamento de obras megalómanas. O investimento público deve ser criteriosamente distribuído pelo país de modo a dinamizar as economias locais.
A solução exige que se aposte na produção nacional e não no aumento do endividamento, como defende o Governo, incentivando grandes obras públicas sem sustentabilidade económica, como o TGV ou o novo aeroporto de Lisboa.
O objectivo central terá de incidir no aumento da competitividade das empresas e no aumento das exportações, o que só acontecerá com apostas decisivas no apoio às pequenas e médias empresas.
Estas são o verdadeiro motor da nossa economia e não os bancos, os seguros ou a especulação bolsista.
A banca e os seus gestores têm-se descredibilizado.
Diariamente surgem notícias que mostram que aqueles que devem milhões são tratados de forma privilegiada.
As pequenas empresas enfrentam dificuldades crescentes, com milhares em risco de falência. São sistematicamente perseguidas pelo fisco, sem perdão nem tolerância por parte da banca, em flagrante diferença com os privilégios concedidos aos grandes especuladores financeiros, que nada produzem e que não criam postos de trabalho.
Numa situação desta gravidade é preocupante ter um Primeiro-ministro fragilizado e sem credibilidade. As várias histórias pessoais, com as suspeitas levantadas, diminuem-lhe a capacidade de liderança.
Concordo com Belmiro de Azevedo quando recentemente afirmou que o grande problema é a falta de líderes.
A absoluta necessidade de mudar de estratégia de desenvolvimento, com mais justiça social e mais igualdade, exige políticos fiáveis, de absoluta confiança.
É a crise de valores e a falta de seriedade por parte das elites que está na origem de muitas das dificuldades nacionais.
As elites culturais, económicas, políticas, militares ou religiosas têm não só o dever de dar o exemplo como de lutar para que a sociedade portuguesa se mantenha fiel a valores éticos e morais.
Carlos Ferreira
(Publicado no Diário de Coimbra em 24.03.2009)

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