sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Discurso nas Comemorações do Centenário da República em Miranda do Corvo


Senhora Presidente da Câmara Municipal de Miranda do Corvo
Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Miranda do Corvo
Senhores Presidentes das Juntas de Freguesia
Demais Autarcas e Autoridades
Senhoras e Senhores

Há 100 anos foi proclamada a República na varanda da Câmara Municipal de Lisboa.
Comemoramos hoje o primeiro Centenário da Implantação da República em Portugal.
O Centenário da República ficará, em Miranda, assinalado por uma série de realizações e eventos que a Autarquia tem vindo a levar a cabo ao longo do ano mas sem dúvida que a Praça da República e o monumento de homenagem à República que hoje aqui inauguramos são a grande marca desta efeméride.
Comemorar a República é comemorar um regime politico mas é também comemorar um conjunto de valores éticos que foram beber a sua inspiração ao primado dos princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
Não estamos hoje apenas a evocar um momento histórico... estático... do passado... mas evocamos também o sonho de ver Portugal transformar-se num país moderno e progressista, berço de valores e de princípios de conduta ética e moral.
Sonho esse, que nós portugueses, até hoje ainda estamos longe de ter conseguido alcançar.
Importa que todos nós mantenhamos a bandeira da República levantada bem alto e que nunca esqueçamos os valores que ela representa e incorpora.
Importa que todos nós lutemos diariamente, com os meios ao nosso alcance, pela construção dessa sociedade melhor, pela qual os nossos antepassados, há cem anos, tanto lutaram.
Uma sociedade livre mas também uma sociedade mais justa e mais igual.
Uma sociedade que não permita que salários e reformas de miséria convivam lado a lado com ordenados escandalosamente altos.
Uma sociedade que não se resigne a ser a que na Europa apresenta maiores diferenças entre os mais ricos e os mais pobres e entre os salários mais baixos e os mais altos.
Uma sociedade que não feche os olhos à injustiça e à mentira.
Uma sociedade cada vez com menos pobres e em que os ricos, em vez de pensarem só em si, lutem pela elevação da própria sociedade.
Uma sociedade que aposte no homem e no seu valor, dando a todos iguais oportunidades para que o valor de cada um se possa evidenciar.
Uma sociedade em que a justiça seja justa e independente e não um joguete dos interesses e poderes político e financeiro.
Uma sociedade progressista e instruída, que garanta o livre acesso de todos, a uma educação e formação universais.
Uma sociedade humana, que garanta aos seus doentes um sistema de saúde de qualidade, independentemente dos seus recursos financeiros.
Uma sociedade solidária, que dê o devido apoio aos mais desfavorecidos e seja inclusiva para com as vítimas de deficiência e outros excluídos.
Uma sociedade boa que saiba dar a devida protecção às crianças e aos idosos.
Foi este o sonho que há cem anos conduziu a bandeira verde e rubra à varanda da Câmara de Lisboa e são estes princípios que devem nortear a vida de todos nós, republicanos.
As duas colunas que no monumento agora inaugurado protegem a figura da República estão aqui para isso mesmo, para nos recordar, com o seu porte recto, a verticalidade dos valores do republicanismo.

Senhoras e Senhores
Estamos hoje aqui, em Miranda do Corvo, a comemorar o Centenário da República e não poderíamos estar em melhor local.
Miranda e os mirandenses sempre souberam nortear a sua conduta pelos ideais Republicanos.
Miranda é hoje uma terra livre e solidária.
É apontada por todos como uma referência regional e até mesmo nacional na área da solidariedade, da inclusão e do investimento humano.
O caminho da solidariedade percorrido em Miranda desde que o Padre Américo aqui fundou a primeira Casa do Gaiato, até ao trabalho hoje desenvolvido nesta Casa, na Fundação ADFP, na Misericórdia e na Caritas em Semide e no Lar Dr. Clemente de Carvalho foi um caminho árduo mas seguramente iluminado pelos valores Republicanos.
Não poderia ser de outra maneira.
Não podemos esquecer que Miranda viu nascer, na Pereira, José Falcão.
José Falcão, um dos mais ilustres mirandenses, foi um dos maiores republicanos portugueses a que a morte já não permitiu assistir ao 5 de Outubro de 1910.
José Falcão foi de facto um dos grandes republicanos. Era um homem de valores.
José Falcão era um democrata e um homem de bem.
Um homem verdadeiramente livre e de bons costumes.
Mas recordar José Falcão é também recordar, na sua figura, todos os republicanos mirandenses.
Desde logo recordamos aqui os Srs. Joaquim Pereira Falcão, António da Silva Bastos, João Batista Leitão Pimenta, Manoel Pereira Batalhão e José Maria Baptista, que constituíram as Comissões Municipais Republicanas de Miranda do Corvo nos anos de 1906 / 1910.
Mas recordamos também os distintos republicanos que aqui nasceram ou escolheram Miranda para viver: O Coronel Belizário Pimenta, o Dr. Rosa Falcão, o Professor Armando Alves da Silva, o Dr. Luís Baeta de Campos, o Dr. Joaquim Refoios, o José Maria Ferreira e o Dr. Henrique Brito de Carvalho, entre outros.
Não podemos esquecer nas gerações mais recentes mas igualmente grandes republicanos e merecedores também de justa evocação o Professor Doutor Ferrer Correia, o Dr. Fausto Correia e o Prof. Lidio Alves Gomes.
Mas hoje importa especialmente homenagear todos os cidadãos mirandenses, anónimos, que ao longo deste século lutaram pelos ideais da República.
É também o testemunho da nossa memória, da nossa esperança, anseios e medos, que daqui a pouco iremos encerrar na Cápsula do Tempo que ficará selada nesta praça.
Cerca de duzentos jovens alunos do Agrupamento de Escolas de Miranda do Corvo, acompanhados por alguns dos cidadãos e cidadãs responsáveis do nosso concelho, aqui irão depositar os seus testemunhos destinados aos seus homólogos que daqui a cinquenta anos ocupem os mesmos lugares.
Esta Cápsula do Tempo destina-se a ser aberta no dia 5 de Outubro de 2060, nas comemorações dos cento e cinquenta anos da República em Portugal.

Senhoras e Senhores
A divulgação dos valores do republicanismo é hoje tão importante como o era há cem anos.
Os ideais da República, cem anos depois, ainda não estão totalmente cumpridos.
A nossa República necessita ainda de muito esforço de todos e de um permanente aperfeiçoamento.
Para nos recordar essa necessidade de conclusão da obra uma das colunas deste monumento não está terminada.
Tal como os antigos arquitectos construtores das grandes catedrais não descansavam enquanto, pedra após pedra, não concluíam a sua obra... Também nós aqui estamos hoje a colocar mais uma pedra, na construção de mais um arco de volta perfeita, nesta obra, iniciada à cem anos, que é a República Portuguesa.
Tenhamos a coragem, todos juntos, de contribuir para o seu aperfeiçoamento.
Tal como há um século os nossos antepassados gritavam por vezes na calada da noite...
Gritemos também nós... hoje... bem alto...
Viva a República!
Viva Miranda!
Viva Portugal!

Carlos Jorge Rodrigues do Vale Ferreira
Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário da República em Miranda do Corvo