terça-feira, 5 de maio de 2009

A Política Agrícola e a Economia Nacional

Um dos principais problemas do País reside no facto de uma parte significativa dos lucros das empresas multinacionais sair de Portugal, beneficiando outras economias.
Portugal que já tem uma balança externa deficitária, importando mais do que exporta, enfrenta também este problema da emigração dos lucros.
A falência da política económica “promovida” pelo Governo ainda se torna mais evidente quando se compara com o que acontece em sectores assentes na riqueza endógena como é o caso da agricultura.
A riqueza gerada pela agricultura caiu 23% desde 1992.
Curiosamente os apoios concedidos aos agricultores caíram 42,5 % no mesmo período.
Segundo dados recentes e tendo em conta as verbas referentes ao Regime de Pagamento Único, ao PRODER e aos programas que o antecederam o Governo desperdiçou mais de mil milhões de euros disponibilizados por Bruxelas entre os anos de 2005 e 2008, por incapacidade de agilizar os mecanismos que poderiam permitir a sua utilização.
Não espanta que com esta descida dos apoios e dos rendimentos tenhamos cada vez menos agricultores e mais campos abandonados.
Um estudo recente aponta que nos próximos anos só 30% dos agricultores possam sobreviver no mercado.
Esta política de desprezo pela agricultura é completamente irracional. Não podemos continuar a abandonar as terras e a apostar numa economia de crescente importação de bens essenciais.
Recentemente até o insuspeito Presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), João Salgueiro, afirmou que a agricultura tem maior potencial para criar empregos que o sector das obras públicas.
Para este economista os planos actuais contra a crise assentam numa política de betão, o que não resolve os dois grandes problemas nacionais: o desemprego e o desequilíbrio da balança comercial.
Segundo o Presidente da APB deveria haver uma campanha nacional para explicar o valor da agricultura.
João Salgueiro lamentou que o sector continue tão desprezado, ao contrário de outros países mediterrâneos que têm apostado no aumento das exportações para o resto da Europa.
O desenvolvimento da agricultura poderia também contribuir para atenuar o desequilíbrio crescente entre o litoral e o interior cada vez mais envelhecido e desertificado.
Falar da agricultura obriga a pensar na floresta.
As pessoas ligadas ao sector sabem que a floresta tem sido igualmente abandonada.
Veja-se o caso grave da doença do pinheiro e a ligeireza com que o Governo tem ”tratado” o problema, causando sérios prejuízos a toda a indústria da fileira do pinheiro: serrações, industria do mobiliário e indústria das embalagens, por exemplo.
A floresta não só é fundamental à riqueza nacional como é essencial à preservação do ambiente e ao turismo de natureza.
A floresta tem que ter políticas que apostem na sustentabilidade do negócio, na valorização da biodiversidade ambiental e na coesão social. Tem que ser rentável para atrair investidores e tem que criar empregos para a população activa que vive na proximidade da mata
Um dos aspectos essências é a valorização da produção de energia renovável pela biomassa.
Basta ver o desprezo a que o Governo tem votado o Centro da Biomassa para a Energia (CBE), sediado em Miranda do Corvo, para se ter a noção da falta de lucidez política dos responsáveis pelo sector.
(Publicado no Diário de Coimbra em 05.05.2009)

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